Da Lama ao Palco: mesmo com chuva, Arvo Festival entrega bom evento

Confira como foi a cobertura da Revista Artemísia na 8ª edição do evento, que aconteceu na Arena Império das Águias, em Florianópolis

Dandara Manoela e Rincon Sapiência no palco do Arvo Festival. Foto: Felipe Maciel

Por Renan Bernardi

Às 14h20, quando eu e Felipe Maciel chegamos na Arena Império das Águias, no bairro florianopolitano do Campeche, a banda Reis do Nada já estava começando as atividades da 8ª edição do Arvo Festival.

Ouvindo e vendo de longe o som da banda enquanto nos ambientávamos com a estrutura e o funcionamento das atividades do evento, conferimos a participação das cantoras Flora Cruz e Rê Significa nesse show de abertura.

Pautando o seu som no R&B, a Reis do Nada contava com uma banda numerosa no palco e teve diante de si um público que ainda começava a chegar – e uma garoa fina que não foi embora durante todo o dia do festival.

A estrutura dos shows funcionou assim: dois grandes palcos principais, um ao lado do outro, com apenas um telão no meio deles. Do lado esquerdo de quem via os palcos de frente, após os bares, ficava uma tenda chamada de Discoteca by Johnnie Walker, onde havia uma programação própria que acontecia simultaneamente aos outros shows. Nos palcos principais, enquanto um show acontecia, a estrutura de som era montada no palco ao lado. Sendo assim, logo depois que a Reis do Nada encerrou seu show, às 15h10, iniciou-se o show de Tulipa Ruiz, às 15h15. Padrão de tempo que se manteve durante toda a programação do festival.

Tulipa Ruiz no palco do Arvo Festival. Foto: Felipe Maciel

Já ambientados ao Arvo Festival, conseguimos ver de perto, logo no começo do show, Tulipa proclamar “você merece o sol” no refrão de “Estardalhaço”, enquanto as capas de chuva iam se reunindo em sua frente para apreciar a cantora que, somente acompanhada de baixo, guitarra, bateria e pontuais programações, ofereceu um belo espetáculo.

Certa altura da apresentação, Tulipa lembrou de um festival recente em que ela esteve e que também chovia. Lá, houve uma fala de Ailton Krenak que disse para o público não ser contra a chuva, “que a chuva estava certa”. Tulipa buscou usar desse bordão e, para incentivar o público que estava encarando o festival no molhado, fez mais do que isso: encerrou seu show cantando “Efêmera” no meio da galera – e da chuva.

Tulipa Ruiz na chuva com a galera. Foto: Felipe Maciel

Mas antes do fim, Tulipa presenteou o público tímido – mais encolhido na área coberta dos bares do que em frente ao palco – com hits de toda sua discografia e algumas surpresas como a canção “Banho”, que ela fez para Elza Soares gravar em seu disco Deus É Mulher, de 2018. E também uma versão ótima de “Hotel das Estrelas”, de Duda Machado e Jards Macalé que conta com clássica gravação de Gal Costa (e as guitarras de Lanny Gordin) no álbum Legal, de 1970.

Antes do show de Anelis Assumpção começar no palco ao lado, houve uma breve apresentação do Coral Tape Mirim, que conta com indígenas guaranis da Aldeia Itaty do Morro dos Cavalos, na Palhoça. Confesso que achei essa apresentação mal microfonada, o que prejudicou a apreciação do trabalho musical. No fim, ainda houve uma boa fala da cacica Eliane Antunes sobre a falta de reconhecimento indígena em Santa Catarina e a importância desses povos na preservação da Mata Atlântica.

Anelis Assumpção no palco do Arvo Festival. Foto: Felipe Maciel

Anelis começou seu show às 16h55. Com uma banda que contava com sopros e tudo, a cantora apresentou canções de Sal, seu disco mais recente, lançado em 2022, e também do repertório de seus álbuns anteriores, garantindo um fim de tarde reggueiro, onde até a garoa resolveu dar uma breve aliviada para o público que estava chegando.

vociferada pelo discurso da cantora, quanto executada em um mashup delicioso de Peter Tosh com o hit “Cabeça de Gelo”, de Shalon Israel, que foi popularizada através dos vídeos do DJ Cleiton Rasta.

Quando, às 19h10, Rubel iniciou seu show no palco ao lado, não estávamos lá para acompanhar, pois foi justamente no momento que nos chamaram para entrevistar a Anelis. Essa entrevista, bem como as feitas com FBC e Dandara Manoela, serão também publicadas aqui na Revista Artemísia em matérias exclusivas para cada artista. Fiquem de olho.

Yasmin Limas no palco da Discoteca Johnnie Walker, no Arvo Festival. Foto: Felipe Maciel

Por volta das 19h, quando voltamos para a pista, Rubel estava fazendo uma espécie de interlude em seu show, onde apenas um DJ tocava hits de funk no palco. Por isso, achamos mais interessante dar uma olhada na tenda da Discoteca Johnnie Walker, onde vimos um pedaço da ótima apresentação de Yasmin Limas, jovem rapper de Indaial, cidade do Vale do Itajaí. Coisa promissora, viu?

Dandara Manoela no palco do Arvo Festival. Foto: Felipe Maciel

Logo também já rolou nossa entrevista com FBC, mas ainda deu tempo de voltar para acompanhar a metade final do show de Dandara Manoela convidando Rincon Sapiência.

Como também entrevistamos Dandara logo após o show, na matéria exclusiva sobre ela contarei mais sobre como rolou essa parceria e o que a cantora achou dessa união que aconteceu no palco do Arvo Festival.

Entre as coisas que ela destaca nas outras entrevistas que deu – e que eu, por estar ali, acabei ouvindo – foi o horário privilegiado que ela recebeu na programação do festival, coisa que a cantora destaca ser muito importante para um público maior conhecer um trabalho desenvolvido em Santa Catarina. Trabalho que – e aqui sou eu dizendo – não fica devendo nada às referências vindas do sudeste do Brasil.

Jorge Aragão no palco do Arvo Festival. Foto: Felipe Maciel

O próximo show dos palcos principais foi do grande Jorge Aragão. Quando saímos do backstage após as entrevistas e ficamos em frente ao palco de seu show, notamos um imenso aumento no público do festival. Literalmente milhares de pessoas chegaram entre às 19h e 21h e, portanto, Jorge Aragão teve diante de si uma multidão celebrando seus sambas.

Penso que essa recepção calorosa ao seu trabalho até surpreendeu Jorge. “E eu que achei que tava tocando no lugar errado”, disse o sambista e, de pronto, emendou: “mais samba antigo, então!” e a banda começou os primeiros acordes de “Conselho”, de Adilson Bispo e Zé Roberto, que virou clássico na voz de Almir Guineto.

O Grupo Fundo de Quintal, do qual Jorge e Almir foram membros fundadores, também foi relembrado pelo cantor na sua apresentação. “Vocês já sabem, mas eu sempre gosto de lembrar que fui um dos fundadores do Grupo Fundo de Quintal”, disse Jorge, antes de trazer para o show clássicos paridos no Cacique de Ramos, como “Do Fundo do Nosso Quintal”.

FBC no palco do Arvo Festival. Foto: Felipe Maciel

A missão de salvar o mundo através do amor, do perdão e da tecnologia de FBC se iniciou às 22h03 no palco do Arvo Festival. Focado no último álbum do artista, a apresentação contou com uma formação que, além do DJ, também tinha guitarra, sopros e coro de vozes.

Na entrevista que fiz com o artista, conversamos sobre a diversidade de sua obra e como a sua recente popularidade é fruto de uma maior participação sua em outros gêneros e estilos, aumentando tanto o acesso ao seu trabalho quanto o repertório do seu público que já vinha do rap.

No show, agradecendo a visível receptividade de milhares de pessoas em frente ao palco, FBC disse que “sempre quis fazer parte da música popular brasileira”, como se aquele momento ali no Arvo Festival afirmasse essa sua participação.

Após desfilar majoritariamente pelas canções de O Amor, O Perdão e a Tecnologia Irão Nos Levar Para Outro Planeta, lançado neste ano, ele encerrou seu show com hits do álbum Baile, de 2021, como “De Kenner”, “Se Tá Solteira” e “Delírios”, além de “Se Eu Não Te Cantar”, do álbum PADRIM, de 2019.

O show da Liniker começou às 23h13 no palco ao lado que, com o grande aumento do público, conseguimos ver só de longe. O que nos faltou aqui de registros visuais, nos trouxe em relatos de experiência na plateia: estando ali no meio da multidão, creio que esse foi o show com maior presença e participação do Arvo Festival.

Com uma banda grande e de ótimo groove, como sempre houve em sua carreira, Liniker apresentou canções de seu álbum mais recente, Indigo Borboleta Anil, de 2021, com o público cantando muito junto.

Mas foi em hits como “Tua” e “Zero” que cheguei a constatação acima citada pois, após emendar essas duas canções do álbum Remonta, de 2016, houve uma grande aclamação de palmas e gritos do público. Coisa semelhante a um grito de gol em jogo decisivo.

O próximo show foi o da Nação Zumbi, que começou por volta das 00h20. Esse a gente também não conseguiu chegar muito perto, mas mesmo assim não perdemos a oportunidade de ver um show da Nação em plena lama. Lama que se formava por quase todo o chão da Arena Império das Águias a esta altura dos acontecimentos.

Independente disso, o show da banda-carro-chefe do manguebeat foi muito quente. Toda focada nos vários hits da discografia deles ao longo dos anos, a apresentação foi a primeira que vi com o novo guitarrista da banda, Neilton Carvalho, que entrou para a Nação após a saída do fundador Lúcio Maia.

Mesmo não sendo um guitar hero como Lúcio, Neilton não é um problema assumindo a guitarra da Nação Zumbi. Mas houve problemas em sua guitarra: técnicos. Aparentemente, por causa da chuva.

Inclusive, tanto no show da Liniker quanto no da Nação, a canção “Chove Chuva”, de Jorge Ben, foi mencionada nas apresentações. Em ambas as vezes, pareceu de forma improvisada, brincando com o momento. Em ambas as vezes, parecia uma oração.

Baco Exu do Blues no palco do Arvo Festival. Foto: Felipe Maciel

O Baco Exu do Blues começou seu show por volta das 01h45 e, dessa vez, o Felipe conseguiu chegar lá para registrar sua apresentação.

Confesso que não acompanho o trabalho do Baco nos últimos anos, então fiquei até um pouco surpreso em ver que ele tem adotado uma abordagem bem mais pop do que aquela que eu conhecia. Reconheci algumas músicas que ficaram famosas dos álbuns Esú, de 2017, e Bluesman, de 2018, em meio ao repertório, e todas elas dialogaram bem com a proposta do show. Inclusive quando incluiu “Você Me Vira a Cabeça (Me Tira do Sério)”, clássico do repertório de Alcione, tudo ainda me pareceu fazer certo sentido.

O show de Baco termina às 02h47 e, logo às 02h53 a Furacão 2000 inicia a despedida da 8ª edição do Arvo Festival com o DJ Rômulo Costa botando pra pista todos os grandes hits lançados pela produtora nos últimos 30 anos.

Nessa hora, já estávamos nos organizando para ir pra casa, coisa que rendeu certo trabalho também. Mas essa história não cabe nesse relato do festival.

O que cabe relatar, como conclusão da experiência do evento, é que o Arvo lidou muito bem com o fato do festival estar todo envolvido pela chuva. Entregou a programação sem atrasos e, fora os inevitáveis problemas que um dia inteiro no molhado causam, fez acontecer tudo que prometeu.

Para saber mais sobre a cobertura da Revista Artemísia na 8ª edição do Arvo Festival, acompanhe nossas redes sociais e confira as matérias exclusivas com os artistas que entrevistamos.

Um comentário em “Da Lama ao Palco: mesmo com chuva, Arvo Festival entrega bom evento

Adicione o seu

Deixe um comentário

Acima ↑