Entrevista com FBC

Atração da 8ª edição do Arvo Festival, em Florianópolis, FBC conversou a Revista Artemísia antes do seu show

FBC no palco do Arvo Festival. Foto: Felipe Maciel

Por Renan Bernardi

No dia 28 de outubro desse ano, FBC se apresentou em Florianópolis-SC como parte da programação do 8º Arvo Festival, que aconteceu na Arena Império das Águias, no bairro do Campeche.

Com apresentação em horário nobre, iniciando-se precisamente às 22h03, o artista e sua banda de apoio focaram o repertório majoritariamente no último álbum de FBC: O AMOR, O PERDÃO E A TECNOLOGIA IRÃO NOS LEVAR PARA OUTRO PLANETA, lançado agora em 2023 e que vem sendo muito bem recebido por público e crítica, consolidando um reconhecimento nacional que se intensificou após o lançamento do álbum BAILE, em 2021.

“Essa me bateu uma nostalgia / Lembrei quando a gente ia lá no baile da Vilarinho dançar”

Mas a história de Fabrício Soares e de sua discografia começa muito antes disso tudo. Nascido na Avenida Vilarinho – região Norte de Belo Horizonte-MG reconhecida pelos seus bailes populares – e criado no Oeste da capital Mineira, ele se interessou pela música muito cedo, antes mesmo de se tornar MC.

Já atuando com o microfone na mão e o nome artístico de FBC, ele tem EPs e singles lançados desde, pelo menos, 2013.

Em 2016, como parte do grupo DV Tribo, junto com Djonga, Clara Lima, Hot e Oreia (os quais o consideravam como uma espécie de mentor) começou a conquistar a atenção de outras partes do Brasil, iniciando um maior interesse nacional pela cena do rap e do funk de BH.

O ano de 2017 foi marcado por lançamentos que catapultaram ainda mais o alcance dos MCs mineiros. O álbum de estreia de Djonga, Heresia, e a participação de FBC na popular cypher Poetas no Topo 2” (junto com Orochi, Froid, Coruja Bc1 e outros) abriram a estrada do artista para o lançamento de seu primeiro álbum solo: S.C.A (Sexo, Cocaína e Assassinatos), lançado em 2018.

FBC no palco do Arvo Festival. Foto: Felipe Maciel

Produzido por Coyote Beatz, o álbum trouxe músicas como “Frank & Tikão”, “17 Anos” e “Superstar”, que até hoje são aclamadas por boa parcela dos fãs. Logo no ano seguinte, 2019, podemos ver a inquietude criativa de FBC se manifestando na busca de uma novidade para sua sonoridade e, é claro, para seu público.

PADRIM, seu segundo álbum, é produzido por Go Dassisti e traz participações inusitadas, como o ex-NX Zero (ex?) Gee Rocha. Mas também é um álbum que se destaca pelas ótimas canções, como “MONEY MANIN”, “$ENHOR” e o hit “SE EU NÃO TE CANTAR”, a única música dessa sua primeira fase que fez parte do repertório do seu show no Arvo Festival, mostrando a manutenção de sua relevância junto ao público que acompanha o artista.

Na carreira discográfica de FBC, apenas um produtor esteve presente na manufatura de um álbum seu mais de uma vez – e nós falaremos dele logo mais. Por enquanto, seguindo a ordem cronológica, vamos ter SMU produzindo BEST DUO, lançado em 2020.

Além de contar com a renovação da produção, o álbum é assinado, como o nome já diz, em duo: junto com a MC Iza Sabino, e traz músicas como “pra você e pra mim”, “napoli” e “vale grana”, que ainda conta com a participação de Djonga.

“Fala, VHOOR!”

Desde seus trabalhos iniciais, passando pelo DV Tribo e os primeiros álbuns, a sonoridade de FBC – mesmo já sendo múltipla e diversificada pela presença de diferentes produtores em cada lançamento – sempre passava pelo boom bap e, depois, pelo trap, fazendo uma conexão direta com os movimentos que se popularizaram no hip hop brasileiro.

Isso muda quando, em 2021, FBC inicia uma ótima parceria com o DJ e produtor VHOOR, também de Belo Horizonte. Ali, em plena pandemia, eles começam a trocar ideias e buscar novos elementos sonoros para um álbum e, nessa pesquisa, acabam encontrando o drill como elemento de inovação para o trabalho.

OUTRO ROLÊ, lançado em 2021, une a timbragem mais sintetizada do drill com ritmos e células melódicas da música brasileira afro-diaspórica, resultando em ótimas canções, como “Champs-Élysées”, “Gameleira” e “Sincero Foda-Se”.

Lançado como EP, OUTRO ROLÊ é um trabalho que já bastaria para colocar a dupla FBC & VHOOR em evidência, mas o mesmo ano de 2021 ainda guardava algo muito maior, tanto para os músicos quanto para os seus fãs – que se tornaram cada vez mais numerosos.

FBC no palco do Arvo Festival. Foto: Felipe Maciel

“De Kenner” foi o primeiro lançamento de VHOOR e FBC mostrando suas ideias para uma certa renovação do miami bass, popular estilo musical norte-americano que, entre os anos 80 e 90, se espalhou pelo mundo, criando uma comunidade de adeptos inclusive em Belo Horizonte – justamente na época que os ouvidos da dupla mineira começavam a se atentar para a música.

O álbum BAILE foi uma virada de chave radical na carreira dos músicos envolvidos. Resgatando a música eletrônica de favela – como o próprio FBC costumava classificar o projeto – eles acabaram criando sucessos como “Se Tá Solteira”, “Delírios”, “Não dá pra Explicar”, além da já citada “De Kenner”.

Celebrado em diversas publicações e premiado em eventos, BAILE foi um álbuns mais comentados de 2021, tornando a agenda de shows de FBC algo muito mais intenso e concorrido, o que aumentou significativamente o seu público e o possibilitou uma imagem pública mais relevante e reconhecida.

Rodando pelo Brasil com esse projeto, FBC e VHOOR continuaram produzindo juntos, mas não caíram na ideia fácil de fazer uma continuação de BAILE, mas também não seriam bobos de não reconhecer os frutos desse trabalho. Dias Antes do Baile, lançado em 2023, é um EP de cinco faixas que, justamente, mostra o resultado de trabalhos que a dupla havia iniciado ainda antes do sucesso do álbum de 2021.

Contando com a parceria de Abbot na produção de uma faixa e com os vocais do trio Tuyo em outras duas delas, o EP é um ótimo resumo da sonoridade que FBC e VHOOR alcançam quando se unem, sendo apresentada aqui de forma refinada e, como sempre, com ótimas canções. Desse, destaco “Lindo” e “Clareou”.

Outro planeta

Renan Bernardi entrevistando FBC. Foto: Felipe Maciel

“A questão é que, antes de ser MC, eu era instrumentista, tocava bateria. E eu gosto muito de música, gosto de todo tipo de música e, se eu tiver a oportunidade de fazer, porque o que eu quero fazer, e se naquele momento eu devo fazer, vai acontecer, né? E eu acredito que, como eu fidelizei as pessoas, os meus fãs, a sempre esperarem algo novo de mim, algo que inove na minha carreira, pra mim tem se tornado natural e a aceitação acho que vem disso”, foi o que me disse o FBC quando o entrevistei, logo antes do seu show no Arvo Festival naquela noite.

Como já mencionei, o seu show em Florianópolis foi focado em seu mais recente álbum: O AMOR, O PERDÃO E A TECNOLOGIA IRÃO NOS LEVAR PARA OUTRO PLANETA, lançado também em 2023.

Dessa vez, não temos mais VHOOR na produção e, como é padrão na carreira de FBC, o universo sonoro se renova mais uma vez. Produzido majoritariamente por Pedro Senna e Ugo Ludovico, mas também com Pepito e, novamente, Abbot, o último álbum de Fabrício tem como plano de fundo o house e a disco music.

Fechado em um conceito sonoro e narrativo, os beats são acompanhados de guitarras, teclados, sintetizadores, coros, trompetes e saxofones tocados organicamente (ou seja: não foram sampleados) enquanto o eu-lírico das canções apresenta a realidade contemporânea das noites das grandes cidades: as festas, as relações, os exageros, os vacilos e, é claro, a forma como tudo isso é representado nas redes sociais, como isso é compartilhado e como essa auto-promoção constante afeta nos nossos afetos.

Luar, cantora da banda de FBC, no palco do Arvo Festival. Foto: Felipe Maciel

Como disse o FBC, seus fãs sempre podem esperar algo novo em seus trabalhos e, até então, isso tem funcionado muito bem. O álbum de 2023, seguindo a onda de popularidade de BAILE, vem sendo muito comentado e, os shows, muito elogiados. Canções como “MADRUGADA MALDITA” e “QUÍMICO AMOR” já podem ser consideradas hits do repertório do artista que, por certo, ainda o acompanharam por muito tempo.

“Eu sinto que eu fidelizo mais as pessoas que estão aqui porque, mesmo nos outros trampos, as pessoas já ouviam, né? E em grande número. Só que isso nunca se refletiu em seguidores, ou mesmo em ouvintes ou inscritos. E, hoje, com esse último álbum, eu acho que eu fidelizei mais as pessoas que me conheceram através de BAILE, por ser algo tão fora da curva naquela época”, também me disse o FBC, logo antes de cantar para uma multidão – muito fidelizada mesmo – que se aglomerou para vê-lo na Arena Império das Águias.

No palco, agradecendo o carinho do público, FBC disse que “sempre quis fazer parte da música popular brasileira”, como se aquele momento ali no Arvo Festival afirmasse essa sua participação.

Não sei quais são os critérios que validam essa afirmação, mas tendo a dizer que a discografia de FBC, assim como os ótimos shows que vem entregando, são e serão coisas que devem lembradas no futuro da nossa música.

Hilton Lima, trompetista da banda de FBC, no palco do Arvo Festival. Foto: Felipe Maciel

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